Conheça a história do município de Irineópolis

A região de Irineópolis têm uma longa história de ocupação humana, que remonta aproximadamente 3.000 anos, ocupada por povos antepassados dos Kaingang e Xokleng/Laklaño. Sendo testemunho deste período, os dois sítios arqueológicos encontrados na Gruta do Km 13, bem como ferramentas e utensílios encontrados no município.

O território era ocupado por populações indígenas com uma cultura e tradição muito singulares que faz parte da vida cotidiana de quem ocupa a terra na atualidade. Com a chegada dos primeiros colonizadores brancos, em meados de 1845, a paisagem natural e humana que há milênios predominava na região foi sendo substituída. Os vestígios que hoje encontramos como pontas de flecha, fragmentos de cerâmica e inscrições em grutas, são indicativos da presença de uma cultura de caça, pesca e lavoura que não apenas viveu em um passado longínquo, como preparou a terra e a cultura que hoje se configura como Irineópolis. Além disso, conecta o passado do nosso município à tradição de povos cuja história fazem parte de um patrimônio material e imaterial de substancial importância político-cultural, pois nos faz pensar que somos parte de uma história muito mais antiga e enraizada no tempo e no espaço do que imaginávamos. O fato dessa terra ter sido anexada à Província de São Paulo por volta de 1845 é apenas um capítulo de uma longa e fascinante história a ser desvendada.

No ano de 1856, Joaquim Rodrigues da Silva (sogro de Joaquim Félix Vallões) conseguiu registrar em sua posse na Paroquia de Palmas a Fazenda São Sebastião do Bom Retiro. Ele era denominado de Paiquerê, expressão indígena incorporada ao seu nome. Junto a ele chegou também Joaquim Antônio Fernandes que com veio acompanhado de outros homens, em sua maioria escravizados de origem africana e indígena. Alguns anos depois (1860), Joaquim Rodrigues da Silva vem a óbito, deixando aberta a disputa pela posse de terra da família. Então, Vallões e sua esposa Gertrudes  (Nhá Tuca) adquirem as cotas hereditárias de seus cunhados.  Com a morte do casal –   Joaquim (1890)  e Nhá Tuca (1897) – seus os filhos, Caetano, Pedro, Manoel, Antônio, Amélia e Emilia, requereram junto ao governo do Paraná a legitimação da Fazenda São Sebastião do Bom Retiro.

No ano de 1886, a localidade antes denominada Fazenda São Sebastião do Bom Retiro, passa a chamar-se Vallões, isso ocorre após a expedição Visconde de Taunay pelo Rio Iguaçu com o vapor “Cruzeiro”. A embarcação encontra o senhor Vallões à margem esquerda do rio e pela receptividade aportam por ali, ficando denominado aquele local como porto de Vallões.  Ele passou a servir de entreposto para abastecimento dos barcos com lenha e mantimentos, atividade que seguramente se fazia em parceria com a comunidade indígena local.

Em meados de 1886, Eufrásio Telles de Oliveira foi orientado pelo peregrino João Maria a procurar um número suficiente de companheiros a fim de demandar as margens do Timbó, onde encontraria um vasto campo no qual deveria construir um povoado que fosse o núcleo de uma futura cidade, denominada em função do rio de Vila Nova do Timbó. Nos anos subseqüentes à Revolução Federalista, as terras ao redor do Timbó foram povoadas por remanescentes desta luta, maior parte composta por migrantes vindos do Rio Grande do Sul.  Consta na documentação de época que em Vila Nova do Timbó possuía dezenas de casas, igreja, escola, agência postal, subdelegacia, juiz municipal, cartório, salão de baile, madeireiras, além de diversos comércios de secos e molhados. Em função do núcleo populacional estabelecido nas mragens do rio e seu intenso comércio, o movimento de canoeiros, bem como do famoso Vapor Cruzeiro que cruzava o rio Timbó, traziam e levavam mercadorias de toda espécie. Essa vila pode ser considerada o primeiro centro populacional do município de Irineópolis.

Timbó era uma região rica em erva mate e madeira. A erva mate, em especial,  possuía grande potencial de exportação, o que despertou a ambição dos governantes dos Estados do Paraná e Santa Catarina, visto que, em decorrência das alterações regimentais efetuadas pelo governo republicano, cabia aos Estados à arrecadação de impostos sobre os produtos comercializados no interior das unidades da federação. Acirrantes na disputa pelo território contestado, a partir de 1901 ambos os estados constituíram legislações (decretos e Leis) para este território, erguendo prédios públicos (escola e delegacia) e encaminhando fiscais para cobrarem tributos. Tal fato acabou estabelecendo uma dualidade jurídica na região que deixou marcas profundas na história.

Com o acirramento da repressão aos rebeldes do Contestado, o território que hoje compreende o município, se viu envolvido por um conjunto de ações que demonstra centralidade desse território como cenário do conflito, com mais de uma dezena de cidades santas localizadas nesse território, com milhares de sertanejos, forças policiais de ambos os Estados e Exército estabelecidos na região. Esse é outro episódio que deixou marcas em nossa história com batalhas, disputas políticas, tradições religiosas e presença de personagens marcantes que carecem de estudos e pesquisas.

 Entre as personalidades que atuaram no Contestado encontra-se a líder cabocla Maria Rosa. Ela vivia na localidade de Serra Grande e atuou como comandante e vidente da Santa Irmandade do Contestado com 15 anos de idade. Sob seu comando estavam homens experientes, mulheres fortes e muitas famílias desamparadas. Graças à força do seu carisma, fé e comando, em março de 1914, chegaram à região de Bom Sossego, Pedra Branca, São José do Timbózinho e São Sebastião, milhares de rebeldes vindos de Caraguatá.

Com o avanço da repressão oficial ao movimento do Contestado, culminando na destruição massiva de diversas Cidades Santas, prisão de lideranças e rendimento massivo dos homens, mulheres do Contestado e a prisão de Adeodato Ramos em agosto de 1916, as elites políticas do Paraná e de Santa Catarina celebraram a assinatura do acorde de limites entre os dois Estado (outubro de 1916). Nesse contexto, o vilarejo passa definitivamente para o Estado de Santa Catarina, e, o governo do Paraná através da Lei nº 1710, de 30/03/1917, extinguiu o Município de Timbó-Paraná.

 Em 1917 o município de Porto União cria o distrito de Herciliópolis (Vila Nova do Timbó).  No ano de 1921, a localidade de Valões foi elevada à categoria de distrito de Porto União. Nos anos subsequentes, com aumento da população e comércio em crescimento, lideranças políticas locais, bem como a moradores locais, iniciaram o movimento para criação de  um novo município. No ano de 1951 o Distrito de Valões passa a se chamar Irineópolis (Lei  nº 82 de 14 de abril de 1951). Essa designação foi dada como homenagem   ao ex-governador do estado, Irineu Bornhausen, por isso, a designação composta do radical grego pólis (cidade) de Irineu. A emancipação política foi oficializada por meio da Lei Estadual n° 820, de 23 de abril de 1962, ocorrendo a sua instalação em 22 de julho do mesmo ano.

O município de Irineópolis está situado no Planalto Norte de Santa Catarina, com área total de 590 km² às margens de um importante corredor econômico do Estado, com mais de 11 mil habitantes, sendo 70% da população residente na zona rural. A agricultura responde por 75% do valor adicionado do município, tendo como destaque as culturas de tabaco e soja. Não menos importantes são as culturas de milho, feijão, trigo, cevada, gado leiteiro, hortifrútis como cenoura, beterraba, cebola, batata e outras, as quais movimentam outra atividade de importância que é o comércio.

Reconhecida nacionalmente como a cidade com o maior desfile de tratores do Brasil, mostrando a força da agricultura, Irineópolis também se destaca pela sua potencialidade turística com paisagens e espaços naturais de grande beleza, tais como cachoeiras, rios, grutas, cavernas, igrejas, museus e paleotocas com registros da presença uma megafauna e de animais gigantes que antecedem a presença humana na região. Soma-se a isso, locais sensíveis, com vestígios da Guerra do Contestado como espaços de devoção, trincheiras, cemitérios e morros que serviram de guarda para os rebeldes.

A hidrografia do município é composta por vários rios, sendo os mais importantes os Rio Iguaçu e Timbó. Destacam-se na paisagem belas várzeas e planaltos. Os pontos mais elevados da região são a Serra Grande, com 1.143m de altitude, e a Serra do Tamanduá, com 1.193m. Não tem como passar por Irineópolis sem contemplar a beleza do pôr do sol às margens do Rio Iguaçu.

 Quanto à formação étnica cultural do município, temos a mescla de várias culturas oriundas de grupos indígenas, caboclos, tropeiros, europeus descendentes de italianos, alemães, poloneses, ucranianos e afrobrasileiros. Suas tradições e costumes, podem ser verificados na arquitetura das casas, em jardins, na culinária, religião e nas danças típicas, que engrandecem a cultura local.

 

Prof. Dr. Rogério Rosa Rodrigues. Professor de História da Udesc e coordenador do projeto Estação Contestado.